O Brasil de dois lados

imagem: Uipi

O Brasil é um país plural, com diversas culturas e raízes, mas hoje, na política, se divide em dois lados: o lado da direita e o lado da esquerda, os popularmente chamados de “coxinhas” e “petralhas”. Pode ser que essa divisão sempre tenha existido, mas a impressão que tenho é que desde o ano de 2016, quando ocorreu o impeachment de Dilma Rousseff, essa divisão ficou bem mais clara e visível. Além da divisão, o que ficou mais aparente também foi a intolerância de um lado pelo outro.

Não vou mentir, sempre me identifiquei mais com as ideologias da esquerda, mas nada me impede de ouvir os pontos em que a direita acredita. Foi essa troca de ideias que parece ter se perdido com a classificação desses dois grupos, você precisa escolher um lado. O único ponto em comum desses dois lados é criticar quem decide ficar no centro.

Eis que surge a internet, um espaço de ideias, de colaboração e de debate saudável… Só que não. A internet colaborou e muito para que a intolerância política ganhasse força, ajudou políticos que antes não tinham visibilidade nenhuma a se tornarem populares e idolatrados com suas ideias radicais. Em cada post com uma opinião contrária, uma chuva de comentários recheados de ofensas, não existe nenhuma ideia válida ali, uma proposta debate, as pessoas comentam apenas pelo prazer de ofender.

Essa intolerância fica visível de uma maneira ainda mais assustadora nas manifestações que ocorrem na rua. De um lado, bombas de gás lacrimogêneo, sprays de pimenta, cachorros e cavalos sendo usados como armas, a cena é de uma guerra civíl. Enquanto isso, do outro lado, camisas da CBF, selfies com os policiais, a cena ali é de festa. Mas por que um lado é atacado tão ferozmente e o outro não? Porque a intolerância já vem de cima, do poder público, daqueles que supostamente deveriam defender a democracia.

Com esse clima de guerra que é criado pela intolerância, os debates políticos também ficam mais violentos. Mesmo os debates promovidos pelas emissoras, que costumam ser de um tom mais formal, o clima é de disputa pura, é preciso provar a todo custo que eu estou certo, e você está errado. Mas o pior acontece nos debates transmitidos ao vivo pelas redes sociais, onde os eleitores podem interagir em tempo real. Acompanhe 10 minutos de um desses debates e leias os comentários, você verá que não existem perguntas, ideias e sugestões, novamente o que encontramos é o ódio gratuíto.

Eu gostaria de ser mais otimista, mas a situação me obriga a ser realista. Não existe uma previsão de melhora em relação à esse clima, a intolerância tende a crescer, e com as eleições de 2018, as coisas tendem a piorar, nem consigo imaginar como serão as campanhas políticas e o que será “discutido” nas redes sociais. E não há um único candidato, seja direita ou esquerda, que vai lutar pela livre troca de ideias, pelo debate saudável, o que ele quer mesmo é raiva, intolerância, e o mais importante de tudo: o fanatismo partidário, claro, desde que você esteja do lado certo, o dele. No Brasil de dois lados, só há uma única coisa que representa esquerda e direita: a intolerância.

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